sábado, 28 de maio de 2011

Barata tonta desbaratina,


Quem aqui não conhece a estória da Dona Baratinha, aquela que procurava um pretendente, numa idéia romântica obstinada de príncipe encantado contado pela vidente. Desculpem-me leitores, peço aqui já tão cedo um parêntesis, nesta estória os irmãos Grim foram julgados e condenados culpados. Mas espere um pouco, o que os irmãos Grim têm haver com a estória da Dona Baratinha que certamente foi escrita por outro autor, que não eles? É que neste conto se misturam todos os elementos objetivos e subjetivos, bem como não há tempo definido: passado, presente, futuro; ou movimento extrínseco – intrínseco.

Neste conto a Dona Baratinha não tem exatamente dinheiro na caixinha, não é este o enfoque em questão. E sim sua busca frustrada por explicação. Uma baratinha metafísica que queria acreditar nos acasos forjados, na animação dos astros, no sopro dos oceanos em desarranjo oscilando em marés. Uma baratinha que queria entender os porquês de tamanha confluência de idéias conexas. Uma baratinha que não pensava como outras baratinhas, mas que procurava inquietante um ser qualquer que compartilhasse de suas errâncias. Uma baratinha completamente desbaratinada brincando de cobra cega e dando cabeçadas a esmo. Uma verdadeira e com toda a expressão da palavra: “Barata tonta”.

Uma baratinha tonta rodada no jogo da cobra cega, se jogava à valentia dia após dia. Uma hora a baratinha aprende que não se atira ao precipício assim tão esbaforida, eufórica por adrenalina. Percebe que é preciso tatear e andar com mais cuidado, sobretudo sob terreno melífluo gomoso de árvore estrondosa, que não deveria se atrever a roubar o mel alheio assim tão decidida.

(Formou-se um novelo gigantesco de exaltadas formas descendo em disparada ribanceira abaixo os fios e as tessituras, o diverso impreciso... Avisei de antemão que se tratava de um texto non sense, patafísico).

Então, sempre que encontrava um suposto candidato espreitava, em seguida pedia para que ele demonstrasse como seria seu grunhido, fosse ele de que espécie fosse. Em sua saga infindável, topou com algumas figuras pouco confiáveis que a fizeram perder a fé. Figuras humanas que transpassavam sua parca condição efêmera invertebrada de carapaça com pouca quitina. Ela não era tão casca grossa assim. Humanos apegados à seus valores mesquinhos, confusos, auto-valorativos eram implacáveis no massacre.

O primeiro ser acalorado que encontrou depois de longa sina foi um touro bravo temeroso frente ao rubro provar de suas retinas. Um pouco receosa pediu então que ele desse um sinal, que demonstrasse que barulho fazia ao dormir. Daí ele mugiu estrepitoso sem se fazer entender. Ela o dispensou mesmo sem intenção, somente por pura hesitação.

O segundo que encontrou foi um burro falante que mais parecia um centauro mitológico trajando um manto gris metal, quase como uma armadura medieval. Na defensiva ele se apresentava altivo. Esquivando-se às investidas de Dona Baratinha, já toda amolecida frente o aurífice.  Qual é seu ruído ao dormir venusto burro? Ele disparou prolixo seu arisco trato. Dona Baratinha relutante partiu para o próximo postulante.

Foi quando topou com o elefante onipresente, sua suntuosidade a assustava sem precedentes. Dessa vez foi Dona Baratinha quem debandou em disparada, não conseguia encarar tamanha empreitada.

Mas de repente, quando já desanimada, eis que encontra sua cara rara, um grilo destemido e impetuoso, que até a ti transtornava. Mesmo ressaltada te  tirou do tino. Ah! Indelicado saltitante, porque me tomas em rompante? Exclama a baratinha tonta, suplicando: _ Elucida!

Por tudo isso os irmãos Grim foram tachados poltrões, simplesmente por destituir da interpretação qualquer escape ao congraçamento romântico que tende a achar que uma estória assim não tem graça, que beira à desgraça de um não final feliz.

Mais quem aqui está pensando em fim?

Um comentário:

Não, São Paulo não me cativou nesse ano. Para mim, privilégio não é estar onde “todo mundo está”, mas estar em um lugar onde se pode, num ...