Quem aqui não conhece a estória da Dona Baratinha, aquela que procurava um pretendente, numa idéia romântica obstinada de príncipe encantado contado pela vidente. Desculpem-me leitores, peço aqui já tão cedo um parêntesis, nesta estória os irmãos Grim foram julgados e condenados culpados. Mas espere um pouco, o que os irmãos Grim têm haver com a estória da Dona Baratinha que certamente foi escrita por outro autor, que não eles? É que neste conto se misturam todos os elementos objetivos e subjetivos, bem como não há tempo definido: passado, presente, futuro; ou movimento extrínseco – intrínseco.
Neste conto a Dona Baratinha não tem exatamente dinheiro na
caixinha, não é este o enfoque em questão. E sim sua busca frustrada por
explicação. Uma baratinha metafísica que queria acreditar nos acasos forjados,
na animação dos astros, no sopro dos oceanos em desarranjo oscilando em marés. Uma
baratinha que queria entender os porquês de tamanha confluência de idéias
conexas. Uma baratinha que não pensava como outras baratinhas, mas que
procurava inquietante um ser qualquer que compartilhasse de suas errâncias. Uma
baratinha completamente desbaratinada brincando de cobra cega e dando cabeçadas
a esmo. Uma verdadeira e com toda a expressão da palavra: “Barata tonta”.
Uma baratinha tonta rodada no jogo da cobra cega, se jogava à
valentia dia após dia. Uma hora a baratinha aprende que não se atira ao precipício
assim tão esbaforida, eufórica por adrenalina. Percebe que é preciso tatear e
andar com mais cuidado, sobretudo sob terreno melífluo gomoso de árvore
estrondosa, que não deveria se atrever a roubar o mel alheio assim tão decidida.
(Formou-se um novelo gigantesco de exaltadas formas descendo
em disparada ribanceira abaixo os fios e as tessituras, o diverso impreciso... Avisei de antemão que se tratava de um texto non sense, patafísico).
Então, sempre que encontrava um suposto candidato
espreitava, em seguida pedia para que ele demonstrasse como seria seu grunhido,
fosse ele de que espécie fosse. Em sua saga infindável, topou com algumas
figuras pouco confiáveis que a fizeram perder a fé. Figuras humanas que
transpassavam sua parca condição efêmera invertebrada de carapaça com pouca
quitina. Ela não era tão casca grossa assim. Humanos apegados à seus valores mesquinhos, confusos,
auto-valorativos eram implacáveis no massacre.
O primeiro ser acalorado que encontrou depois de longa sina
foi um touro bravo temeroso frente ao rubro provar de suas retinas. Um pouco
receosa pediu então que ele desse um sinal, que demonstrasse que barulho fazia
ao dormir. Daí ele mugiu estrepitoso sem se fazer entender. Ela o dispensou
mesmo sem intenção, somente por pura hesitação.
O segundo que encontrou foi um burro falante que mais
parecia um centauro mitológico trajando um manto gris metal, quase como uma
armadura medieval. Na defensiva ele se apresentava altivo. Esquivando-se às
investidas de Dona Baratinha, já toda amolecida frente o aurífice. Qual é seu ruído ao dormir venusto burro? Ele
disparou prolixo seu arisco trato. Dona Baratinha relutante partiu para o
próximo postulante.
Foi quando topou com o elefante onipresente, sua suntuosidade
a assustava sem precedentes. Dessa vez foi Dona Baratinha quem debandou em
disparada, não conseguia encarar tamanha empreitada.
Mas de repente, quando já desanimada, eis que encontra sua
cara rara, um grilo destemido e impetuoso, que até a ti transtornava. Mesmo ressaltada te tirou do
tino. Ah! Indelicado saltitante, porque me tomas em rompante? Exclama a baratinha
tonta, suplicando: _ Elucida!
Por tudo isso os irmãos Grim foram tachados poltrões, simplesmente por
destituir da interpretação qualquer escape ao congraçamento romântico que tende a
achar que uma estória assim não tem graça, que beira à desgraça de um não final
feliz.
Mais quem aqui está pensando em fim?
Criatividade e graça...
ResponderExcluirUm beijo