sábado, 10 de dezembro de 2022

Ontologias do outro, outras epistemologias: decolonialidade e princípio pluralista


 


O desafio epistemológico que se apresenta ao cientista da religião nos dias de hoje, diz respeito ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de recursos teórico- metodológicos capazes de lidar com o problema da alteridade do outro diante do fenômeno religioso.

Com a emergência do paradigma decolonial, as ciências da religião assumem o compromisso de destinar atenção às configurações religiosas, sociopolíticas, econômicas, culturais e epistêmicas estabelecidas em espaços fronteiriços. Reconhecendo e validando a diversidade de denominações presentes no campo religioso, através da adoção do princípio pluralista, tido como,

[...] um instrumento hermenêutico de mediação teológica e analítica da realidade sociocultural e religiosa que procura dar visibilidade a experiências, grupos e posicionamentos que são gerados nos “entrelugares”, bordas e
fronteiras das culturas e das esferas de institucionalidades. Ele possibilita divergências e convergências novas, outros pontos de vistas, perspectivas críticas e autocríticas para diálogo, empoderamento de grupos e de visões subalternas e formas de alteridade e de inclusão, considerados e explicitados os diferenciais de poder presentes na sociedade. Nossa pressuposição é que o princípio pluralista formulado a partir de lógicas ecumênicas e de alteridade, possibilita melhor compreensão do quadro religioso e também das ações humanas.  (RIBEIRO, 2017, p. 241)

 

Segundo Claudio de Oliveira Ribeiro, os desafios que se insinuam para os cientistas da religião a partir do aparelhamento epistemológico com paradigma decolonial, se organizam a partir de três pontos centrais: 1º) comprometerem-se com a promoção de um alargamento metodológico, corroborando para uma atualização nas formas de compreensão da realidade. O que só será possível, caso os pesquisadores se desviem da clássica bipolarização analítica, introduzida com os estudos marxistas – caracterizados por disporem a sociedade em duas versões opostas: os dominantes e os dominados, o que de certa forma, contribuí para o ocultamento da complexidade e da diversidade dos arranjos socioculturais que se organizam em torno da religião; 2º) conferir atenção às subjetividades do outro, que aparecem atreladas às diferentes formas de espiritualidades; 3º) compreender as dinâmicas da pluralidade religiosa, atendendo às reivindicações que se apresentam por parte da sociedade, o que envolve destinar atenção às minorias étnico-raciais, de gênero etc., o que requer a capacidade de adotar uma postura de maleável e acolhedora das alteridades. (RIBEIRO, 2021)

Desse modo, as ciências da religião trata do pluralismo religioso e lida com a diversidade religiosa de forma comprometida, fomentando o diálogo inter-religioso e combatendo a intolerância, ao passo que, busca, cada vez mais, evidenciar a subjetividade do outro, que se reflete nas suas cosmovisões.

Assim, para além da conscientização acerca dos mecanismos de perpetuação da colonialidade, cabe aos cientistas da religião engajarem-se na desconstrução dessas estruturas opressoras arraigadas, desenvolvendo não só teorias e métodos alternativos para o tratamento do fenômeno religioso, como esforçando-se para confrontar fundamentalismos e promover discursos de paz e de tolerância.

 

Referências

RIBEIRO, Claudio de Oliveira. O princípio pluralista: bases teóricas, conceituais e possibilidades de aplicação. Revista de Cultura Teológica, v. 25, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/323897421_O_principio_pluralista_bases_teoricas_conceituais_e_possibilidades_de_aplicacao/link/5ab1e5acaca2721710ffd15f/download>.

RIBEIRO, Claudio de Oliveira. O catolicismo brasileiro sob a ótica do princípio pluralista. Interações, vol. 16, n. 1, 2021. Disponível em: <https://www.redalyc.org/journal/3130/313066091009/313066091009.pdf>.

 

* Texto preparado para o Minicurso de Verão: O que é O Princípio Pluralista?

 

Não, São Paulo não me cativou nesse ano. Para mim, privilégio não é estar onde “todo mundo está”, mas estar em um lugar onde se pode, num ...