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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sonhos



                                                                                             Akira Kurosawa

Nos meus rincões são tantas estradas de percorrer
Trajetos para além de qualquer especulação
Ontologia que perpassa gerações
Um sentimento de pertencimento
E saudade daquilo que ainda não vivi?!
Déjà vu, intuição

Paralelo á rua
 aquela confraria mística no terceiro andar
de uma trilha do trem
matagal e um carro governado por ele mesmo
como uma carroça encantada nos sertões cerrados pro lado de cá
a estrada e a poça d’água
Cavalos e pássaros!

Um barco sobre a água turva
de tons opacos ao anoitecer
o bacanal, a boemia, a bebida
Os poços sulfurosos
a instabilidade
à deriva.



terça-feira, 26 de abril de 2011

Ambrosia

"Flaming June" - Lord Leighton (1830-1896)


Ambrosia
céu destilado
saudade crisântemo
imaginação fraudada

ondas de calor
roseira de espeta paus
bromélias suspensas

caninos sorrisos
sol ardente em vermelho poente
nas escadarias e no musgo verde

alvejante quintal
couves e camélias
cantos entre estantes

contos de fantasmas e outras estórias
impressões, deflagradas memórias
ruídos, chaves na penteadeira
vendaval com as folhas de outono
rodopiando e ouvindo canto lírico
ópera-  fígaro

não estancam
se repelem
quando na nuca
quebra-se a lenda
e se redime.

II


Quando ouvia aquele batuque arrítmico conseguia se transportar para aquele refúgio imaginário e chegava a sentir todos os cheiros, cores e lampejos da nova estação. Estava segura entremeada pelo matagal descuidado que rodeava a casa pelos fundos.

Projeção de ambiente cultivado no requinte de tecidos rendados, cheiro de tabaco e as luzes entremeadas por piscadelas frenéticas e intermitentes.

Num quarto disposto no fundo do corredor de um hotel da década de 60, a fachada recauchutada disfarçava os ares de pardieiro.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

I

O lampejo se passava num ambiente inebriante, ou era um sonho de relance?
 Difícil distinguir idas, vindas e tropeços, a cada espasmo titubeio.

Havia um elevador elegante, todo trabalhado no aveludado vermelho carmim, um cabaré, um hotel, ou um botequim?

Por fora a fachada verde bandeira com letras garrafais estampadas, gritava: “Náutico Clube da Ribeira”, e as pessoas quase que saltando pelas sacadas se espremiam para ver...

Uma multidão catártica envolvida num só balanço desconhecido, um embalo nocivo, quase encantamento.

Ritmo contido e coeso, em risco em círculos, rodopia.

No depósito, junto aos alimentos e bebidas, restos de materiais de construção, entre latas de tinta e sacos de feijão...

se esvaia.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Abstrações virtuais...


Sobre a madrugada:


Como já denuncia o dito popular:
“Na madrugada, todos os gatos são pardos!”

-A madrugada inspira os poetas roucos!
-A madrugada é  abismo, te tira o juízo!
-A madrugada têm seu próprio fôlego!

(en) gole seco
sopro lisérgico/ etílico
compulsivo de
sociabilidade simpática

...por um sopro de dignidade
respiração ofegante
atitude hesitante


Na noite quando não sou o meu sono
Sou meu lobo!

A noite tem sua própria identidade
expressa em seus domínios sensíveis

ID-EU-FORIA
e sua máscara/escudo de plástico...

(plasticidade da condição humana)

Parte a
Nau da noite.
"moment to arise!"

 domínio de sensações imediatas:

"Faça o que tu queres pois é tudo da lei"
(como já diria o velho Raul)

domínio de sensações orgânicas:

 boca, póros e arrepios
 seios, ventre e fígado
sonolência/ taquicardia

No que foi noite
carrapichos/caprichos?

until the dead of the night



destilando o insustentável
encantamento da noite...


Black Bird Fly!!!!







Blackbird


The Beatles

Composição: Lennon / McCartney



Blackbird singing in the dead of the night

Take these broken wings and learn to fly

All your life

You were only waiting for this moment to arise.

Blackbird singing in the dead of the night

Take these sunken eyes and learn to see

All your life

You were only waiting for this moment to be free.

Blackbird fly, Blackbird fly

Into the light of the dark black night.

Blackbird fly, Blackbird fly

Into the light of the dark black night.

Blackbird singing in the dead of the night

Take these broken wings and learn to fly

All your life

You were only waiting for this moment to arise

You were only waiting for this moment to arise

You were only waiting for this moment to arise.



quarta-feira, 30 de junho de 2010

Bad Romance



Senti morte- Nefertiti
Sabia do inevitável...
 Sonho inventado?!


De novo seu hálito inebriante

Sorvi seu fôlego mentolado

Sua saliva sabor saudade



Percorri todo o trajeto para por fim te encontrar,

numa rodoviária esparsa atenção,

meias rasgadas no taxi-corujão



Dois tragos e meio de birita

na esquina, sempre na esquina...

curva de rio!!!


Bias Fortes com Tupinambás

“Guajajaras, Tamoios, Tapuios,

Tupinambás, Aimorés, todos no chão...”

Um bom jazz,

a companhia,

e talvez uma serenata de marmanjos mal arranjados

entusiasmados com a situação.



Um quarto, conceito

Tempero para tudo!


Modorra Sodoma e Gomorra


viver é privar o devir do existir

Provar o elixir de cicuta acerba,

Morrer com a boca repleta de formigas debaixo de sua mesa.


Já chega! (huhauahuahuahuahua)




Ser (tão)


*Tarsila Amaral- Sol Poente

SER (tão) desertificado


No nada....

Em lugar algum.



Casebre abandonado

Esteira estirada

Assoalho- chão



Sótão Satà Russem

Sabiá cantou também,


Previsibilidade perecível

de vaga-lume em noite de mula sem cabeça.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Viver é muito perigoso!

Minha curiosidade pela condição humana vem me conduzindo por tortuosos e enigmáticos caminhos transversos para além da hipocrisia.
São elos que se criam amordaçados em máscaras fortuitas,
os mesmos dilacerados pelo desligamento defensivo-compulsivo.
Não passam de estímulos nervosos tencionados por humanidades tortas,
frouxas, insossas, devassas, salientes e transcendentes.
Nessa roleta-russa alucinada, nessa madrugada exterminada,
Vou fazendo a trajetória inversa Déjà vu.
Vou construindo não-lugares de desespero,
Nosferatus do desejo,
Mausoléu vivo em recordações dispersas.

Viver é muito perigoso!
Não confluências podem ser desastrosas.
É preciso ter cautela e precisão, qualquer passo em falso pode levar ao abismo, ou ainda à contradição.
Não se afogue em nada, tente ao menos um motivo digno.

Viver é muito perigoso!
Mundanas mutações orgânico-sociais
O aparato técnico de que dispõe as esferas comuns da vida privada aparecem reforçados e esgotados no superficial recolhimento do devir ilusório. São transações normativas de caráter ético, intrinsecamente pessoais e capazes de reprimir atitudes autopunitivas e autodestrutivas.
São comportamentos, massificados e repetitivos. Tenho medo disso!

Viver é muito perigoso!
Nenhuma dinastia Siciliana passional me irrompeu essa tarde,
Sigo tranqüila e hesitante,
Cambaleando no labirinto que eu mesma edifiquei
Absorta em construções imagéticas vagas e circundantes,
corrosivas como só a brisa do mar sabe ser.
Letal, passiva, liturgia irracional.
Domínio do nada! Ou do quase nada.

Diagnóstico imediato

Sábado, 15 de maio de 2010

Diagnóstico imediato

• Oscilações orgânicas contundentes, soturnas e dilacerantes me acometem sem sofreguidão;
• Transformo-me na ânsia da madrugada...
• Engulo seco meu devaneio; (mas só por alguns instantes)
• Subterfúgios de ordem externa são incapazes de conter tamanho furor concupiscente;
• Ardilosa trama imbricada de conseqüências danosas;
(alterego: _Onde eu fui me meter?!)
• Minha mente conspira contra mim, ao me encher com pensamentos autodestrutivos de arrependimento. Pedi socorro a mim mesma, e disse isso alto e em bom som. As palavras ecoaram no cosmos e esse pedido de clemência, repousou numa vibração carinhosa e auto-afirmativa do tipo: “_ Está tudo bem!” ,“ Não foi nada, não se arrependa!”, “ Admita: o que tiver que ser, será.” “__Você pelo menos fez sua parte”.
Meu alterego respondeu: “_ Não quero me perder em considerações intuitivas. Preciso respirar! Não consigo sair de casa, não consigo parar de pensar”...
E então me permito sentir, sofrer e amargar uma resistência.
• Tento digerir cada nuance e permaneço intacta, pelo menos aparentemente.
 Ossos do ofício de ser vivente!

mestiçagem ancestral



Trajetória infame da formiga
quer chegar ao doce da vida,
mas é sabotada a meio caminho.
Melhor então ser uma vespa,
Que de tão vesga, não consegue distinguir o “terço do turco”e segue distinta.
Já a cabrita,
esbraveja,
sobe nas canelas e supõe ingratidão.
Poliniza como as abelhas, néctar de sedução
e encontra na anca das vacas, a forma inata da mestiçagem ancestral.

Útero Abissal






                                                                            *Ascensão de Cristo, Salvador Dali



ÚTERO ABISSAL


Este título me veio à mente quase que mnemonicamente.
O processo criativo nunca é linear, tampouco planejado ou segue a parâmetros e protocolos pré-estabelecidos. Trata-se de uma pulsão involuntária. Pode partir de uma sensação ou emoção, pode advir de um fato empírico, pode ser fruto da imaginação, divinação, ou quem sabe até fluir como psicografia.
Nesse dia me senti como em transe, talvez no final das contas eu não tenha sabido o conduzir corretamente, ou talvez o que me fosse verdadeiramente precioso seria o que realmente aconteceu, enfim...
Meu impulso começou a fluir quase que mediunicamente, sentia um tensionamento dos músculos e nervos de todo meu corpo, um torpor de ordem física, mental e acima de tudo espiritual. Manifestava formigamento, forte inquietação, uma energia totalmente voltada à prática da escrita. Sentia que precisava começar a escrever imediatamente, e qualquer superfície me serviria. Peguei então lápis e o primeiro pedaço de papel que vi pela frente e psicografei este título: “Útero Abissal”, além de outras linhas que preferi não compartilhar.
Foi então que nesse momento, outra força maior ainda em sua energia/ sinergia me inclinava a ir até meu armário de livros e apanhar um deles. O livro em questão não era necessariamente meu, mas se encontrava nos domínios da minha humilde e incipiente coleção de livros e escritos já há algum tempo.
Neste instante o nome de um autor ressoava claramente em meus ouvidos como materialização sonora de pensamento: “Hermann Hesse, Hermann Hesse”, bem também como uma frase: “Só para os raros!”, extraída de um de seus livros, “O lobo da estepe”, o único que eu havia lido deste autor até então.
 Sentia esse nome soar em meus ouvidos: “Hermann Hesse, Hermano Hesse!” como um chamado, um sutil sinal do universo para que eu tivesse algum tipo de contato e absorvesse algum tipo de ensinamento oportuno em sua obra.
Hermano Hesse com que há de contribuir a mim?
E foi assim...
Logo nas primeiras páginas o acaso se manifestou, as coincidências foram demais, difíceis de explicar.
Deve existir algo de especial, de mágico, algum propósito imensurável a ser descoberto. Pois como se explica o fato de eu ter sentido uma irresistível atração magnética por este livro, justamente com esta frase em mente? Que ensejo era aquele? Minha motivação gira em torno de decifrar o porquê dessa confluência holística.

As entrelinhas traduzem mensagens complexas cujos conteúdos abalam as edificações de entendimento da esfera íntima, uma vez que sugerem possibilidades de auto-interpretação, propõem descobrimento de auto-considerações dolorosas e necessárias.

A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo (...) Homem algum chegou a ser ele mesmo, mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode(...) Todos temos origens comuns: as mães, todos proviemos do mesmo abismo, mas cada um- resultado de uma tentativa ou de um impulso inicial_ tende a seu próprio fim. Assim é que podemos entender-nos uns aos outros, mas somente a si mesmo pode cada um interpretar-se”.

Não somos necessariamente frutos do meio, e sim frutos do que conseguimos abstrair subjetiva e intersubjetivamente deste meio.
Cada indivíduo é capaz de sustentar apenas a realidade objetiva que te convém. Por isso antes de pensar megalomaniacamente as macro estruturas over- obsoletas, deve- se voltar os olhos para sua individualidade velada, buscar entender suas próprias e reais motivações impulsionais, suas especulações ilustrativas, além de suas reações corriqueiras habituais e fortuitas.

O útero remete à gênese, ao começo de tudo. Não só da vida humana já que podemos fazer analogias a tudo que existe. A palavra “útero” especificamente, e ao contrário de qualquer outra, faz alusão há algo muito especial e muito orgânico acima de tudo: a fertilidade, a explosão de potencialidades, a maternidade.
É acolhedor, é quente e úmido, é vida.
E o abismo?! corresponde ao fim inevitável? Onde todos são subjulgados?
 A manifestação de nossa condição efêmera e inacabada. Nossa fugaz trajetória em travessia errante.

“Abrasou-me de repente como aguda chama a revelação definitiva: todo homem tinha uma “missão”, mas ninguém podia escolher a sua, delimitá-la ou administrá-la a seu prazer. Era errôneo querer novos deuses, era completamente errôneo querer dar algo ao mundo. Para o homem consciente só havia um dever: procurar-se a si mesmo, afirmar-se em si mesmo e seguir sempre adiante o seu próprio caminho, sem se preocupar com o fim a que possa conduzi-lo. Tal descoberta comoveu-me profundamente e foi para mim como fruto daquela vivência. Muitas vezes havia brincado com imagens do futuro e havia entressonhado os destinos que me estavam reservados, como poeta talvez ou talvez como profeta. (...) E tudo isso era um equívoco. (...) Tudo era secundário. O verdadeiro ofício de cada um era apenas chegar a si mesmo. Depois podia acabar poeta ou louco, profeta ou criminoso. Isso já não era coisa sua, e além de tudo, em última instância, carecia de todo alcance. Sua missão era encontrar seu próprio destino, e não qualquer um, e vivê-lo inteiramente até o fim. Tudo o mais era ficar a meio caminho, era retroceder para refugiar-se no ideal da coletividade, era adaptação e medo da própria individualidade interior”.

Sigo refugiando-me na coletividade insossa para ofuscar minhas próprias mazelas erigidas sob estilhaços de inseguranças e escombros de pavor. Até quando?!
Perco-me em variáveis instáveis e procuro aquietar-me no cerne do momento.
 Esse processo interno denota a fragilidade de minha condição humana, as dúvidas e incertezas que me acometem de súbito e permanentemente, me atiram ao precipício. Qual seria minha tábua de salvação?

O voltar a si,
a atenção sobre si,
uma auto-observação que gera autoconhecimento.
Viver o presente: aqui e agora!
Me equilibrar no meio do oito deitado

Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo a seu lado somente gélidos espaços infinitos” (...) “ Aquele que só quer seu destino já não tem modelos nem ideais, amores, nem consolos”.

Dá pra ser puramente hedonista por muito tempo? Até quando você aguenta?
Egoísta?!
Eu não...eu nunca!
Talvez pende por aí meu descompasso.

Eu definitivamente abro mão do meu destino intuído, de minhas projeções infundadas e me deixo à deriva, esperando o acaso. Mas fazendo o meu lado.

Cuidado com suas projeções, elas não passam de construções mentais com poder de efetivação na realidade da vida objetiva. Elas podem se materializar, daí você terá que administrar.

“Quem quiser nascer tem que destruir um mundo”.

Uma ave gigantesca rompia a casca. A casca era o mundo, e o mundo havia de cair feito em pedaços”.


  Salvador Dalí - Geopoliticus Child Watching the Birth of the New Man, 1943 


Preciso admitir que mesmo o acaso é forjado, que eu mesma construo meu arcabouço nocivo.
Em outro momento de fecundação, me fecho num ovo. Fecundo pensamentos, no meu tempo.
Necessidade tamanha de contentamento, tem que fazer sentido, estar conectado pelo meu umbigo- cordão do mundo, manifestar possibilidade de resgate e sustentação.

Mas nem os caminhos nem rodeios importam se ao fim surgir à luz a verdadeira necessidade da alma, adormecida e enganada durante tanto tempo”.

(Hermann Hesse- “Demian”- Editora Civilização Brasileira S.A- Rio de Janeiro, 1970)


  Holisticamente orgânica !
                                




Não, São Paulo não me cativou nesse ano. Para mim, privilégio não é estar onde “todo mundo está”, mas estar em um lugar onde se pode, num ...