Escrevo
para me redimir, me confrontar, me iludir. Escrevo para dar vazão a um
substrato mental corrosivo que incita a loucura, escrevo para me livrar da dor,
escrevo para contemplar o amor, a natureza e o que há de essencialmente puro e
divino.
Meu
processo de escrita é impreciso, oscila na perspectiva do fluxo de ideias, às
vezes são como correntes aquáticas num oceano de possibilidades, ora frias, ora
mornas, o caldo contorce-se na movimentação densa dos organismos primários.
Peixes na lama que ganham formas e se debatem contra as rochas milenares.
Sentidos ofuscados por membranas torpes, visão distorcida de fragmentos
molhados. Quando salta, o peixe vira pássaro e ganha os ares, sente o ar e
enfrenta a volta, via queda abrupta, suas nadadeiras não são asas e toda
transmutação tem seu tempo.
As
ideias me vêm num fluxo incessante que mal me permitem reconhecer a relevância
precisa. Ato biografia é essencialmente o que mais me motiva a escrever, mas
não sobre os feitos socialmente valorizados, o que me motiva sobre o ponto de
vista literário, no sentido de ter o ensejo de construir algo, é uma espécie de
autoanálise que vem acompanhada de uma simultânea auto sabotagem via auto
exposição denegrida, excessivamente fragilizada, passional.
Sinto
a necessidade de simplesmente tentar agir como se as mãos rápidas no teclado
pudessem acompanhar o fluxo contínuo do pensamento- expurgo de um cérebro ativo.
Salvo que a incorporação é o que fica. A verdade é que sinto uma constante
interação de pensamentos meus e alheios capazes de me transmitir imagens e mensagens
de conhecimento de dimensões paralelas, assunto delicado que demanda um acurado
trato – barreira imaginária que tal como linha tênue é reversível e transponível.
Admitir finalmente que nem tudo o que escrevo deve ser publicado, e que, além
disso, agora consigo ter uma visão mais abrangente e pensar a poesia para além
de sua origem na auto exumação do bem o do mal em mim, de algum sentimento
contundente, do inerente processo de escolhas sem fim. Agora passo a lidar
melhor com os impulsos, me contendo talvez, ou partindo de um ponto de vista
mais maduro acerca do que é escrever e qual é minha verdadeira intenção. O fato
é que esses anos de blog tem me servido para desmistificar a escrita e a
interação entre o que escrevo e o que reverbera entre os meus convivas, admito
que ainda me auto boicoto e que poderia soltar mais a mão e o coração.
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