Guimarães Rosa"Há uma hora certa,
no meio da noite,
uma hora morta,
em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio,
na lagoa,
no açude,
no brejão,
nos olhos d’água,
nos grotões fundos.E quem ficar acordado,
na barranca,
a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir…Águas claras,
águas barrentas,
sonolentas,
todas vão cochilar.Dormem gotas,
caudais,
seivas das plantas,
fios brancos,
torrentes.
O orvalho sonha nas placas das folhagens
e adormece.Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes…Mas nem todas dormem,
nessa hora de torpor líquido e inocente.Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
Essa… nunca tem sono…"
(“O Sono das Águas”. João Guimarães Rosa, 1908-1967. In: Magma. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1997, pp. 66-67)
Muito bom,
ResponderExcluirpoesia orgânica.