A figura mitológica denominada “Oroboros”, extraída de um antigo manuscrito grego, representa simbolicamente uma cobra que morde o próprio rabo e opera num movimento circular e contínuo todo processo dinâmico e transformador da vida.
O mais trivial de nossos atos e comportamentos cotidianos articula em si uma carga de risco sem precedentes e que nos direciona constantemente à efetuação de escolhas frente à percepção destes riscos. Deflagrando uma sensação de ansiedade frente à incerteza.
Existem os riscos extensionais de âmbito e consequências globais, bem como existem também os riscos intensionais oriundos de fenômenos e manifestações locais, alicerçados inclusive em relações pessoais e intimistas.
A noção de risco implica na noção de confiança. Para qualquer dimensão de interação social é necessário um certo grau de consentimento e confiança tanto em indivíduos quanto em instituições.
É como se brincássemos de cobra-cega, você simplismente tapa seus olhos frente aos possíveis riscos, que se apresentam desde as colisões previsíveis à acontecimentos inesperados e fora de seu alcance. Você se joga na busca de um objetivo, contando que o outro estará presente, confiando na legitimidade das regras do jogo. Como exemplo ilustrativo aponto uma rodovia, onde os carros se deslocam em alta velocidade, e qualquer deslize, qualquer mínima desatenção pode ocasionar agravantes desastrosos. Nesse caso, você tem que contar que ela (a rodovia) se encontrará em condições adequadas, que não hajam impedimentos de quaisquer natureza, além de estar à mercê também do outro desconhecido, e contar com seu preparo para circular na travessia.
Tal movimento intrínseco das instituições na modernidade é desenrolado despercebidamente.E frequentemente passamos batido frente às tecituras imediatas da realidade de nossa vida objetiva.
Muitas vezes não nos damos conta que escolhemos tudo e o tempo todo e que nossas escolhas cotidianas tem implicações para além do nosso umbigo.
Desde onde morar, o que comer , que som ouvir, o que vestir, que lugares freqüentar, quês informações abstrair da mídia, como e com quem se relacionar, quais assuntos tratar, como destinar seu lixo, como desperdiçar seu tempo ocioso. etc...
Frente a esse mosaico de possibilidades firmamos nossa existência e ressaltamos os limites de nossa identidade.
Identidade essa, permeada por influências internas e externas a nosso juízo.
Transcendente à nossa percepção física sensorial ou abstrativa cognitiva.
Confrontamos paradoxos:
Tradição/ inovação
subjetividade/ objetividade
coerção/ sublimação
Coletividade/ individualidade
A relação do todo complexo e das partes integrantes...
Somos criadores ou criaturas?
Criamos nossa realidade ou somos frutos do meio social?
É nessa confluência de possibilidades divergentes e que se complementam que vivemos e nos edificamos a cada dia enquanto seres racionais e sócio culturais, produtores de nosso própio tempo-espaço.
Flávia Amaro
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