segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Estrela Perigosa



Estrela perigosa

Rosto ao vento

Marulho e silêncio

leve porcelana

templo submerso

trigo e vinho

tristeza de coisa vivida

árvores já floresceram

o sal trazido pelo vento

conhecimento por encantação

esqueleto de idéias

ora pro nobis

Decompor a luz

mistério de estrelas

paixão pela exatidão

caça aos vagalumes.

Vagalume é como orvalho

Diálogos que disfarçam conflitos por explodir

Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.

No obscuro erotismo de vida cheia

nodosas raízes.

Missa negra, feiticeiros.

Na proximidade de fontes,

lagos e cachoeiras

braços e pernas e olhos,

todos mortos se misturam e clamam por vida.

Sinto a falta dele

como se me faltasse um dente na frente:

excrucitante.

Que medo alegre,

o de te esperar.

Clarice Lispector



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