Quem me dera voltar à
inocência
Das coisas brutas,
sãs, inanimadas,
Despir o vão orgulho,
a incoerência:
- Mantos rotos de
estátuas mutiladas!
Ah! arrancar às carnes
laceradas
Seu mísero segredo de
consciência!
Ah! poder ser apenas
florescência
De astros em puras
noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo
ao entardecer,
De ramos graves,
plácidos, absortos
Na mágica tarefa de
viver!
Ser haste, seiva,
ramaria inquieta,
Erguer ao sol o
coração dos mortos
Na urna de oiro duma
flor aberta!...
?
Quem fez ao sapo o
leito carmesim
De rosas desfolhadas à
noitinha?
E quem vestiu de monja
a andorinha,
E perfumou as sombras
do jardim?
Quem cinzelou estrelas
no jasmim?
Quem deu esses cabelos
de rainha
Ao girassol? Quem fez
o mar? E a minha
Alma a sangrar? Quem
me criou a mim?
Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em
místicos arroubos?
Os monstros? E os
profetas? E o luar?
Quem nos deu asas para
andar de rastros?
Quem nos deu olhos
para ver os astros
- Sem nos dar braços para os
alcançar?!...
Florbela Espanca
Florbela Espanca
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