A forma como incorporamos tais informações atingem e afetam nossa percepção diretamente e nesse sentido, diferentes dimensões subjetivas e objetivas se articulam refletindo num fluxo e refluxo de sensações, apropriações, representações e comportamentos frente à esse entendimento, à essa assimilação.
Essas percepções corroboram para a construção do nosso entendimento do mundo.
Lembro-me, por exemplo, de alguns fatos marcantes da história mundial reportados pela mídia nos idos de 1989, quando eu me encontrava com apenas cinco anos de idade. Foram respectivamente “A queda do Muro de Berlim” e o fato de eu ter assistido na época um documentário sobre “o desastre de Chernobyl”, ocorrido em abril de 1986. Eles sem dúvida constituíram um salto de consciência na minha infância, foi como uma espécie de marco de abertura para o entendimento do mundo, e esse mundo já me pareceu logo de início, um tanto quanto caótico.
Lembro-me que ficava tentando imaginar como um muro poderia ser tão forte e robusto a ponto de dividir uma cidade, não conseguia imaginar como as pessoas poderiam ser displicentemente privadas de seus direitos de ir e vir. Imaginava crianças trocando cartas e brinquedos atirados por sob o muro. Atormentava os adultos para que me explicassem o porquê daquilo tudo, mas sempre em vão, pois geralmente as explicações destinadas à crianças são frequentemente vagas e alusivas.
Ao passo que eu já percebia a importância da destruição de um ícone de repressão e manipulação política da vida humana no interior das organizações sociais e políticas, me preocupava também com as questões de ordem emocional as quais essas pessoas estavam submetidas.
Já com relação ao acidente de Chernobyl, me deparava com a arbitrariedade do conhecimento técnico científico aplicado às esferas da vida social compartilhadas.O acidente demonstrou claramente o quão contraditório e arriscado é depositar nossa confiança nas instituições vigentes da modernidade.
Incorporei atentamente essas informações na época,
e o que mais chocou a minha percepção infantil, foram as mortes e principalmente o fato de que
as pessoas que conseguiram fugir, sobreviver, tiveram que abandonar as suas casas, suas vidas em seus
locais de origem, ficaram sem seus pertences simbolicamente afetivos.
E as bonecas da garota? E as fotos de sua vovozinha? E a caixinha de música com a bailarina? E o cachorrinho que ficou preso no canil?
O reflexo daquela angústia extrema sentida lá no passado, na minha mais tenra infância, de certa forma ecoa até hoje nesses escritos e nas minhas motivações pessoais em tentar entender esse mundo e as apropriações dele por parte das pessoas e instituições.
E as bonecas da garota? E as fotos de sua vovozinha? E a caixinha de música com a bailarina? E o cachorrinho que ficou preso no canil?
O reflexo daquela angústia extrema sentida lá no passado, na minha mais tenra infância, de certa forma ecoa até hoje nesses escritos e nas minhas motivações pessoais em tentar entender esse mundo e as apropriações dele por parte das pessoas e instituições.
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