terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Insight


          Pensando em relação a uma teodiceia segundo os termos de Peter Berger, me pergunto porque um atentado de cunho religioso como o de Paris repercute e causa mais consternação na opinião pública do que um atentado de cunho político econômico com implicações ambientais. Para além das questões da manipulação dos meios de comunicação que pretendem abafar a catástrofe de Mariana, talvez a questão metafísica envolvida na explicação desses acontecimentos seja uma chave de interpretação. De um lado nos perguntamos, que Deus é este que imputa a morte, o terror e o sofrimento, capaz de não só permitir, mas também legitimar que tais atrocidades acontecessem, e no outro nos perguntamos como chegamos a esse ponto e permitimos um desastre de tamanhas proporções ocasionado pela arbitrariedade humana?
           Se recorrermos a Giddens e suas formulações teóricas sobre a ideia da confiança e do risco perceberemos que inevitavelmente depositamos fichas simbólicas de confiança no outro, e consequentemente nas instituições. Nossa intrínseca condição humana nos atrela inexoravelmente à coletividade, dependemos dos outros para sobrevivermos e conduzirmos nossas vidas cotidianas. Na perspectiva de Giddens em função de nossa tradição cartesiana e de nosso respectivo conhecimento especializado precisamos uns dos outros para o funcionamento da organização social. Ou seja, pensando a partir desse ponto de vista, devemos admitir que não damos conta de tudo sozinhos, não somos autossuficientes, precisamos do outro e essa relação envolve uma latente angústia. Pois esta confiança está pautada com efeito pelas incertezas. Uma vez que nos perguntamos quem é o outro? E como depositar confiança nesse outro?
           A Samarco falhou, involuntariamente depositamos confiança na capacidade de ela gerir com eficácia e segurança o sistema de mineração. Confiar no homem e no seu aparato técnico- científico não é garantia de nada. O homem é falho e suas construções são falhas. No entanto, por outro lado, o Deus que estaria aí para reger com harmonia essas constelações, é o mesmo Deus que permitiu o atentado terrorista em Paris, ou qualquer outro atentado de um homem contra outro homem. A angústia que experimentamos é proveniente desse mar de incertezas, não encontramos meios de nos submetermos à vontade desse Deus demiurgo, tampouco podemos ter uma esperança mediada pela figura do homem e suas construções técnico-científicas. Sendo assim fica a indagação, onde repousa a plausibilidade das coisas do mundo?

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