quinta-feira, 31 de maio de 2012

PAIRA
GIRA
INCORPORA
DECANTA
CAI
 POR TERRA

r i o


Somos o rio, a gota e a margem
somos miragem
ilusão
poeira cósmica sedimentada
na vaga, no leito, no pleito
desfecho contínuo
de ir e vir
sentindo
se

AH, GIRASSOL




Ah, Girassol, que o tempo exaure!
Que medes do sol a passada;
E buscas aquele áureo clima
Que é o rumo de nossa jornada:
Lá onde a ardente Juventude
E a Virgem que em neve se veste
Do túmulo se erguem e aspiram
Ao rumo que só tu soubeste.



William Blake – Canções da Inocência e da Experiência




terça-feira, 29 de maio de 2012

Isso para quando em sonho corro e não saio do lugar


Nem com toda transcendência
se preenche
Rabo de olho e raio de alcance
e numa gradação permissiva
os encaixes não se dão completamente
E tudo fica projetado
como escudo, adorno ou extensão parasita
de letárgica entrega sangue suga
numa morosidade de mosca que passeia na perna
e onde qualquer ato abrupto assusta espantando
todo sopro, arrepio ou encanto

Era necessário virar uma estátua de vigília
Espanta alho de vampiro
espelho falho
funil de luzes e sombras
redemoinho
para que a cada segundo de eternidade
uma lembrança inteligível
resguardasse
selvagem
meu tino sensível
e me guiasse no escuro
ainda que em desatino
para a fonte luminosa de todos os poros
holísticos escritos.

domingo, 27 de maio de 2012

meu ouvido


Magritte -Untillied, (Shell inthe form of an ear),1956


Existem trocas realizadas numa dimensão estática que paira
e nela toda a dinâmica da reciprocidade se instaura
ainda que dissimulada, te escuto,
direto e labiríntica
e ressôo o que entendo, o que quero, 
e aguento.


Serei a oscilação entre as sendas abertas para a transversal da hora
sonhando sentada e singrando à sorte de ingratos humores igualmente oscilantes

Serei a temperatura da face da lua, levemente fria, iluminada e quente na outra extremidade carnal

Lua nova,lua que cresce, lua que quando cheia já é quase míngua
Lua que míngua, lua que cresce, lua que quando cheia já é quase nova

nociva, pêndulo e empuxo
entre a completa entrega e a entrega hesitante
sou o espaço de tempo estancado
a sereia do poço encantado
cirurgicamente eterno
circunstancialmente ao acaso
imemorial e faiscante
num dos centros energéticos
da Terra.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Água doce luminosa


 Todo alento de água doce
em poço circular
emanando das profundezas da terra
pura fonte de desejos humanos
castos, inatos, instintivos
jorrando da fenda entre a rocha e a areia
vento lunar, lírio branco
moinho de pensamento
sedimento de pedrinhas no fundo
 fresco movimento natural margeado por verde
musgo e umidade
nascente de estrelas luminosas
que dissolvidas se reintegram à essência prima
nostalgia, deja vu
todas as significâncias em ciranda
girando num cósmico céu de brilhantes
guias de orvalho e safira
na noite do vale
assistida.

Fotografias mentais


 I
Mosaico de vitrais quebrados
galeria gigante e vazia
no alto vibra a insígnia
de dor e alegria
velas circundantes
Inebriados lugares
distancias cantantes
confessionário
sepulcros gelados
como sombras de uma
benta luz.

II
O por do sol no dorso de um centauro
cavalgando a esmo numa praia dourada de aurora
e brisa morna, cruzando as araras vermelhas e toda a passarada
um véu bordado em paetês de anil me cobrindo os olhos de rena
perfume de jasmin e pétalas de rosa com alfazema

III
Dissolvendo em água caudalosa
em selva úmida e fechada
e quando o medo e a corrente
invade
e a gente
se desfaz.

sábado, 19 de maio de 2012


pequeninos portais


Queria que essas linhas
chegassem como sopro e
pontilhassem o infinito
como passarelas para imensidão

queria que seu sentido girasse
e penetrasse em espiral
a consciência absoluta
num entendimento
harmônico
universal

queria que o cosmos dissolvesse
como celulose orgânica vegetal


formas cristalinas
refletores das multicores
de sais minerais
elementais


e o além etéreo
cometa de Íris
aceso
como um signo
frontal
                                      


                    Flávia Amaro

Postagem original: http://manufatura.blogspot.com.br/2012/05/queria-que-essas-linhas-chegassem-como.html


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Arte poética

*Imagem capitada e registrada por mim em maio de 2012- Captólio-MG.


Fitar o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.

Sentir que a vigília é outro sonho
que sonha não sonhar e que a morte
que teme nossa carne é essa morte
de cada noite, que se chama sonho.

No dia ou no ano perceber um símbolo
dos dias de um homem e ainda de seus anos,
transformar o ultraje desses anos
em música, em rumor e em símbolo,

na morte ver o sonho, ver no ocaso
um triste ouro, tal é a poesia,
que é imortal e pobre. A poesia 
retorna como a aurora e o ocaso.

Às vezes pelas tardes certo rosto
contempla-nos do fundo de um espelho;
a arte deve ser como esse espelho
que nos revela nosso próprio rosto.

Contam que Ulisses, farto de prodígios,
chorou de amor ao divisar sua Ítaca
verde e humilde. A arte é essa Ítaca
de verde eternidade, sem prodígios.

Também é como o rio interminável
que passa e fica e é cristal de um mesmo
Heráclito inconstante, que é o mesmo
e é outro, como o rio interminável.



BORGES, Jorge Luis. O fazedor. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

quinta-feira, 17 de maio de 2012



“O poder simbólico é um poder de consagração ou de revelação,
um poder de consagrar ou de revelar coisas já existentes”.
(Pierre Bourdieu, 2004: 167)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Papel e caneta


Escolher meus interlocutores e a medida da exposição
não forçar entendimento, não forjar compreensão
cada um com sua porção de realidade
e sua capacidade de condensação (julgamento)
contando que  aceitar o tempo imensurável
que tudo protela e que tudo prevê,
ainda que requeira esmera
de apática cacofonia transversa em representação
é saída complexa e digna de contemplação
fixa e aciona, aperta míopes os olhos e vê
de relance, fonema, sentido
coesão de ritmo de timo acolhido
sinestésico arrepio e meditação
trampolim pra dentro
escorregando lentamente num túnel escuro
profundo, descolado e inerte
desenrolar de línguas de trapo
torcidas e contorcidas
por seus totens- tabu
de cera e de tinta
no papel de azul
branca e rasa
sina.

terça-feira, 15 de maio de 2012



I
Antes era tudo impressão
Ilusão da palavra, provimento
Agora tudo se solidifica
ao som da palavra, pavimento
PRIMEIRA ESTAÇÃO

ii
Depois aprender a coexistir
Conviva de lua
e deslocamento

III
\à MARgem do rio que corre e corta
transversal do tempo
pensando e trançando -  longos fios
de encantamento

Não, São Paulo não me cativou nesse ano. Para mim, privilégio não é estar onde “todo mundo está”, mas estar em um lugar onde se pode, num ...