quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mas Eu


   Mas eu, em cuja alma se refletem 
   As forças todas do universo,
   Em cuja reflexão emotiva e sacudida
   Minuto a minuto, emoção a emoção,
   Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
   Eu o foco inútil de todas as realidades,
   Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
   Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
   Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
   Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.

Álvaro de Campos
 

terça-feira, 28 de junho de 2011


"The Sixteenth of September" - Magritte

No embalo contagiante do movimento dos astros que teimam em insistir
 Soam suspeitas subjetivas de uma remota promessa desperta
hesitante em avançar escalas de coragem
ritmo- compasso embargado/ privilegiado
todo impulso, que engole e atropela
....
Intenção
Correspondência
Vontade
Pulsão
Reciprocidade
....
Sempre que o timo aperta é necessário acordar
tomar fôlego e concentrar de novo
talvez se perca aí 2 ou 3 turnos dispersos
talvez todo um inverno.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Preponderância

http://transket.deviantart.com/art/PENDULO-135714453

Um segundo fora da gravidade


pêndulo nevrálgico de


preponderância



Emoção x pensamento


suspenso...



experiências recíprocas


(dar, receber, retribuir)



Captura de outras dimensões:


batida de coração


as palavras, o silêncio, a fisiologia humana e o pensamento


teia imbricada,


permeada por categorias externas:


Psicosociopoliticoculturais




Condição naturalmente voltada à emoção 


Perene ...




Qual é o poder de uma construção indutiva/intuitiva/discursiva frente à qualquer situação do dia a dia?


Reflexão constante


Vencida


Quando em vias de fato se investe e se esquiva


...


Movimentos orgânicos espontâneos
na capoeiragem...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Noturno






 

Quem tem coragem de perguntar, na noite imensa?
E que valem as árvores, as casas, a chuva, o pequeno transeunte?
 

Que vale o pensamento humano,
esforçado e vencido,
na turbulência das horas?
 

Que valem a conversa apenas murmurada, 
a erma ternura, os delicados adeuses?
 

Que valem as pálpebras da tímida esperança,
orvalhadas de trêmulo sal?
 

O sangue e a lágrima são pequenos cristais sutis,
no profundo diagrama.
 

E o homem tão inutilmente pensante e pensado
só tem a tristeza para distingui-lo.
 

Porque havia nas úmidas paragens
animais adormecidos, com o mesmo mistério humano:
grandes como pórticos, suaves como veludo,
mas sem lembranças históricas, 
sem compromissos de viver.
 

Grandes animais sem passado, sem antecedentes,
puros e límpidos,
apenas com o peso do trabalho em seus poderosos flancos
e noções de água e de primavera nas tranqüilas narinas
e na seda longa das crinas desfraldadas.
 

Mas a noite desmanchava-se no oriente,
cheia de flores amarelas e vermelhas.
E os cavalos erguiam, entre mil sonhos vacilantes,
erguiam no ar a vigorosa cabeça,
e começavam a puxar as imensas rodas do dia.
 

Ah! o despertar dos animais no vasto campo!
Este sair do sono, este continuar da vida!
O caminho que vai das pastagens etéreas da noite
ao claro dia da humana vassalagem!


                                       Cecília Meireles



É preciso não esquecer nada


 
É preciso não esquecer nada: 
nem a torneira aberta nem o fogo aceso, 
nem o sorriso para os infelizes 
nem a oração de cada instante. 
 

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta 
nem o céu de sempre. 
 

O que é preciso é esquecer o nosso rosto, 
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. 
 

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, 
a idéia de recompensa e de glória. 
 

O que é preciso é ser como se já não fôssemos, 
vigiados pelos próprios olhos 
severos conosco, pois o resto não nos pertence. 
 

                                      Cecília Meireles, 1962

domingo, 19 de junho de 2011


Reinvenção
 

A vida só é possível
reinventada.


Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida, 
a vida só é possível
reinventada.


Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada, 
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva, 
fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida, 
a vida só é possível 
reinventada.

 

                  Cecília Meireles



Noções


Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.


Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que
a atinge.


Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se
encontram.


Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.


Ó meu Deus, isto é a minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e
precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e
inúmera...

                                            Cecília Meireles

sábado, 18 de junho de 2011

esferográfica.


visões de antemão
nostálgica evidencia dedilhada
diminuto reduto de tampa de caneta esferográfica
dogmas piedosos e retardatários
proliferação de fungos – decompositores
asfixia fadigada na berlinda do sufoco
 esqueleto sambado
manhã tropical- medusas 
oscilantes pandemônios
Farfalhada de línguas de trapo
Atraso da correspondência ,
que chega à seu tempo
na medida de seu enfrentamento.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Água marinha


Da minha para a sua ilha são distâncias a fio
numa bússola que pode ser norte
Contexto: Oceano em desarranjo oscilante
Vagas marinhas e o movimento das placas tectônicas
De pulo em pulo a barcaça também balança
Lamentos que ficam presos em conchas
Quando se ouve de perto, é som de profundidade abissal
Mar aberto avança...
veleiro errante já com umidade nas canelas
Muita água ainda a percorrer.

quarta-feira, 15 de junho de 2011


Temos sexto, sétimo e até nono sentidos,
que se articulam na terceira ou quarta dimensão
para além do quinto sono,
ou da segunda intenção
acerca da primeira
impressão.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ventríloquo



Algo distante e inexorável se firmava:
ventríloquos loucos de joelhos
rogavam nostálgicos

reclamam 
suas não-vozes
entrecortadas

por
bonecos
dispersos

em coro
reproduzindo
decoro

sexta-feira, 10 de junho de 2011


Dividir- bifurcação

Quantos caminhos?  Quantos galhos? Pra macacos!

O que dividimos quando repartimos?

Como se desmembrar sem deixar de ser?

Para que?

Sala de espelhos...

Ora várias

Ora esdrúxulas

Quantas cabem?

Que parte compete?

Qual interpretação?

Não se acha se confunde

Nada acontece,

procastinação

Dádiva de negação.




"Quando nada acontece há um grande milagre que não estamos vendo". 

                                                                                            Guimarães Rosa

The Narrow Way- Pink Floyd



Following the path as it leads toward
The darkness in the north
Weary stranger's faces show their sympathy
They've seen that hope before
And if you want to stay for a little bit
Rest your aching limbs for a little bit
For you the night is beckoning
And now you can't delay
You hear the night birds calling you
But you can't catch the words they say
And you must you realize be on your way
Mystery swelling, creatures crawling
Hear the roar ger louder in your ears
You know the folly was your own
But the force behind can't conquer all you fears
And if you want to stay for a little bit
Rest your aching limbs for a little bit
For you the night is beckoning and you know
And now you can't delay
You hear the night birds calling you
But you can't catch the words they say
And you must you realize be on your way
Throw your thoughts back many years
To the time when love was life with every morning
Perhaps a day will come when the match for me the
curlers past warning
And if you want to stay for a little bit
Rest your aching limbs for a little bit
For you the night is beckoning
And now you can't delay
You hear the night birds calling you
But you can't catch the words they say
And you must you realize be on your way

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Precipite Acepipe


Dispus meu maná essencial no altar dos dias e das horas
regaço portentoso obducto
pra afundar comigo em meu abissal reduto
submergir para ir de encontro aos assombrosos corais
depois emergir ligeiro à meia- luz.

Mar aberto - veleiro errante
 Caudalosos horizontes
Prateadas transmutações em
peixes fosforescentes saídos das nascentes
entranhas da Terra

brisa difundida
líquida e gasosa
enlevos descontínuos
Têmperas alegorias.

Coleciono versos inseguros,
protelo meias verdades
como veias em fluxo pulsante
cadenciadas pela bomba cardíaca
ditando o passo e o compasso
da arritmia.



À incerteza pujante saúdo um brinde!
Inconsciente derivativo = alegoria de alienação.

Descontentamento notável e ininterrupto
de colisões coletivas em choque- quebra.

Impulso selvagem atávico x Impulso domesticado coercitivo
... sempre mobilizados pelo sublime perecer...

No discorrer de retinas nervosas tensionadas por músculos oculares intrépidos
Ambigüidades de fluxos- retorno

Sensação oceânica- ontologia de tradições sem origem
Fronteira avançada/ estandarte sem símbolo
Realidade exterior ao indivíduo?!

segunda-feira, 6 de junho de 2011


Esta manhã ao acordar, quando vi minha imagem refletida no espelho me estranhei.
Coloquei minha cara lavada bem defronte e olhei mais atentamente, cada expressão, cada sinal do tempo que teima em aparecer. Tenho quase trinta anos, cicatrizes notórias, eixos assimétricos e uma expressão espantada.
Não me percebi limitada neste corpo. Carapaça, carcaça humana.
Sou reduzida ao que sou? Somente Soul
Não sou só isso! Como se minha aparência não condisesse com a minha verdade. Minha existência vai além?! Que corpo é esse, que face? Meus olhos não me reconhecem...

sábado, 4 de junho de 2011


Pensei que sonhava com folhas caindo,
com os lagos escuros de bosques sem fim,
com o eco de tristes palavras;
Mas não lhes conseguia entender o sentido.

Pensei que sonhava com estrelas caindo,
com súplicas de olhos cinzentos num grito,
com o eco de umas risadas;
Mas não lhes conseguia entender o sentido.

Como a queda de folhas e estrelas caindo,
Pensei que me via, para sempre indo e vindo
com o eco sem fim que sonhava;
Mas não conseguia entender-lhe o sentido.


Georg Trakl 
Austria-(1887-1914)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Carcarás e girassóis







Imagens captadas por mim no início de junho de 2010
em um campo de girassóis nos arredores de Araguari-MG.





Não, São Paulo não me cativou nesse ano. Para mim, privilégio não é estar onde “todo mundo está”, mas estar em um lugar onde se pode, num ...