terça-feira, 26 de abril de 2011

II


Quando ouvia aquele batuque arrítmico conseguia se transportar para aquele refúgio imaginário e chegava a sentir todos os cheiros, cores e lampejos da nova estação. Estava segura entremeada pelo matagal descuidado que rodeava a casa pelos fundos.

Projeção de ambiente cultivado no requinte de tecidos rendados, cheiro de tabaco e as luzes entremeadas por piscadelas frenéticas e intermitentes.

Num quarto disposto no fundo do corredor de um hotel da década de 60, a fachada recauchutada disfarçava os ares de pardieiro.

Um comentário:

  1. à luz de uma estrela


    um corvo
    a cor do céu turvo
    um corpo

    tão arco-íris
    de ostras ao vento
    em flor a alçar vôo
    entre esferas olhos de ira

    dentro do céu
    em cacos coisas soltas
    - a lua o sol a terra -

    quem dera
    o corvo solitário
    assombraria todo o chão
    entre nuvens - ria -
    do coração já escurecido

    onde piso pé a pé
    o corpo tísico
    que é meu num dilúvio
    de estrelas em arrepios

    depois rimos
    - eu e o corvo -
    do que brilha

    seja lua sol fogo
    o branco o negro
    o vento trêfego

    pois ferrugem
    no céu
    soçobra mínima

    de um véu
    a descarnar a língua
    quase fóssil

    suspenso o corvo
    viola sentidos a devorar
    o geômetro branco do tênsil olho

    e eu - a revirar-me -
    em miúdos silêncios
    a ver navios em fragmentos
    à luz de uma estrela

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