sábado, 26 de fevereiro de 2011

Baile naftalina



Fim da festa, ascendem-se as luzes. No salão vazio as marcas no assoalho denunciam a ocupação e os embalos da madrugada anterior, copos, cacos, guimbas de cigarros, garrafas vazias, uma boca roja de batom estampada no guardanapo, um peculiar vapor quente e úmido exalado pelo vinho derramado, um falso brilhante delicadamente recostado ao pé da escada, como boa-noite Cinderela desmantelada ou ainda resquício de uma fitinha fétida de meretriz.


Era baile na singela cidade, as moças se apresentavam à risca, sem mais tecituras nem menos, sem menor pudor de menos, pois tinham de ser tiradas para bailar, e esse era o rítmo, era esse o movimento, a roda de cartas, de nada adiantava titubear; deviam se apresentar interessantes, ter presença de espírito, 2kg a menos na silhueta, grilo e peitos sacodidos.

Salomé não passou despercebida,

Salomé sabia de onde vinha,

trajava sandália de fita e vestido de chita,

Salomé colecionava orelhas,

carregava seu destino à pino

Salomé escondia navalha na virilha,

vendeu sua alma na estribaria clandestina

Salomé era pura provocação, cavalo indomado que dá coice e te castra na foice

Pimentinha na brasa

Ventania nos pés

malemolência morosa

Gole à gole: “Cuba libre”= coca-cola + rum

Passo à passo: “São dois pra lá, dois para cá”

Salomé que sempre achou que sabia o que fazer,

no baile daquela noite girou tanto que recendeu  forte cheiro de naftalina

nada saiu do lugar

nostalgia aos moldes da brilhantina.










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