sábado, 26 de fevereiro de 2011

Tome tento


Com cheiro agridoce,

de pimenta sugestiva

macerada ao toque

da temperatura

 dos trópicos


sua compleição despertava

à cada espasmo, deleite

pulsão de saliva

à cada dobrar de esquinas,

nos arrancos de pinote,

nos melindres de menina


sua face se ruborizava apenas quando descascava cebolas

saltavam-lhe as veias do colo e pescoço

como impulso de fluxo sanguíneo

apelo pro tempero visceral vespertino

para a digestão da história

pelo salpicar da memória


de ponta à cabeça,

 “malandramente,

nesses caminhos”


Não se pode controlar a circulação, tampouco o ritmo

batuque ancestral aqui dentro, atemporal e arrítmico



Naqueles domínios só tinha sangue nos olhos e fogo nas ventas quem sabia se impor.

No bar ao lado do saguão (microconto)

Finalmente encontrara um lugar seguro às vistas dos outros, acabara de chegar da rua exasperada e sob chuva torrencial.
Na marquise do saguão de entrada de um hotel qualquer no dobrar da esquina já não estava mais sozinha, fazia sombra, névoa e era alta madrugada.
Entrou confiante e recostou-se sob o balcão, tal como um parapeito do precipício.
Se encontrava absorta enquanto esperava algum sinal ou gentileza alheia.
Foi quando ouviu um ranger arrastado, alguém finalmente se aproximava. Tinha a silhueta de um homem e deslocava uma pesada cadeira de ferro desde o fundo do salão vazio. O ruído remetia à ambos um simultâneo incomodo artifício, nada mais que reminiscências de uma síndrome espasmódica esquecida.
Sabia que às vezes, por mais que tentasse não daria para somente abstrair, seria necessário interromper, e até mesmo romper definitivamente.
Como num estalo de consciência, a dona saca logo um cigarro de uma espécie de caneleta posicionada displicentemente entre seus seios, parecia embalagem de vitamina C e ressaltava suas artimanhas peculiarmente práticas.
 Acendeu-o num sorver único, queimando feito brasa instantânea, o subliminar objeto fálico.
 A voz, rouca e soturna já muito próxima lhe direcionou a palavra,
_Puxe também uma cadeira.
_Obrigada, mas estou só de passagem. É que a chuva...foi interrompida.
_O que eu tenho a dizer é breve, não vai durar.
E com um movimento ligeiro e preciso o homem apontou novamente a cadeira em direção a moça.
Ela sentou-se, acomodou-se ressabiada, é que aquele homem desconhecido a transtornava atenção, por alguma razão que lhe escapava o fôlego.
_Pois não, então diga.
O homem inclinou-se bem perto, e olho a olho, temperatura de proximidade, disse:
_ Não há o que dizer, tampouco sentir, só temos tempo para mais uma dívida.
A vida é efêmera, tenho pressa, gostaria de não precisar me apresentar, já fui tantas coisas, hoje nem sei mais. Além disso, nenhuma situação se esboça no vento, o mesmo que não te trouxe aqui por acaso. 
A essa altura da madrugada nenhuma hesitação faz sentido, precisamos nos aliviar.
_se quiser tentar, a chave é essa.



Gumnaam

Baile naftalina



Fim da festa, ascendem-se as luzes. No salão vazio as marcas no assoalho denunciam a ocupação e os embalos da madrugada anterior, copos, cacos, guimbas de cigarros, garrafas vazias, uma boca roja de batom estampada no guardanapo, um peculiar vapor quente e úmido exalado pelo vinho derramado, um falso brilhante delicadamente recostado ao pé da escada, como boa-noite Cinderela desmantelada ou ainda resquício de uma fitinha fétida de meretriz.


Era baile na singela cidade, as moças se apresentavam à risca, sem mais tecituras nem menos, sem menor pudor de menos, pois tinham de ser tiradas para bailar, e esse era o rítmo, era esse o movimento, a roda de cartas, de nada adiantava titubear; deviam se apresentar interessantes, ter presença de espírito, 2kg a menos na silhueta, grilo e peitos sacodidos.

Salomé não passou despercebida,

Salomé sabia de onde vinha,

trajava sandália de fita e vestido de chita,

Salomé colecionava orelhas,

carregava seu destino à pino

Salomé escondia navalha na virilha,

vendeu sua alma na estribaria clandestina

Salomé era pura provocação, cavalo indomado que dá coice e te castra na foice

Pimentinha na brasa

Ventania nos pés

malemolência morosa

Gole à gole: “Cuba libre”= coca-cola + rum

Passo à passo: “São dois pra lá, dois para cá”

Salomé que sempre achou que sabia o que fazer,

no baile daquela noite girou tanto que recendeu  forte cheiro de naftalina

nada saiu do lugar

nostalgia aos moldes da brilhantina.










Ao meu amigo

Ah, meu amigo! temos vivido dias de cão,
nada de novo,
nada de norte,
seguimos nossa própria sorte
à revelia da morte
Nossa válida intenção.

Porventura não seriam desdobramentos de sortilégios pairando acima de nossas cabeças/possibilidades?
Instituídos pelo movimento inextricável das eras?
Não dá para dizer ao certo, somente que a tradição já não tem mais peso e que o seu lombo já está sambado.
Temos tanto mundo dentro da gente, tanta ilusão, que não cabemos, ou cabemos dentro de nós?
 Estar junto aos seus é se fechar numa ostra de reconhecimento provável mais repetitivo é ficar à beira do abismo. Se alienar com a erva forte, se afogar no imediato, abrigar fundos sem cortes, mover pedras de um lado para o outro, fincar os pés em terra de passagem.
Se é de passagem, porque insistir em fincar raízes?
Só estufa?
Tempo de maturação?
 Fomos tratados a beira-bar,
outsiders do sertão acidentado,
das verticalidades cravadas na horizontal de concreto metido à cosmopolita.
Sabe-se lá que aparências vazias não enchem barriga.
E nós, temos fome de tudo!

Um porém no encanto do mundo nos desperta a consciência dos dois lados da mesma moeda: quanto mais se sabe, mais se quer, e o sentimento de frustração é diretamente proporcional ao conhecimento desse paradoxo.
 Porque queremos? O impedimento é proveniente do movimento dos astros? Somos nós um fracasso?
 Mais cômodo deixar-se levar, não sofrer, nem se esmorecer, é vero que o resguardo não trás resultado, muito pelo contrário, pode quebrar uma rotina de disposição.
 Porque há de se concordar comigo, tem que ter disposição!


Se os tubarões fossem homens



Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.
Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo.
Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.
Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.
Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.
Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.
Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.
As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.
Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos
Da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.
Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente.
Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.
A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos .
Também haveria uma religião ali.
Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.
Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.
Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante.
Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.


                                                                                       Bertold Bretch







sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


Alívio de projeção


Passo despercebida, me esquivo
prefiro o alívio da projeção
Nada às cruas me tem apetecido
quando à solta me guio
se é só nó de redemoinho
forjado sentido
sugestivamente inventado
profanamente evocado
em inconsistência prolixa.
Não me leve a mal,
de nada preciso além disso,
a escrita de inspiração,
eu, confronto de contentamento

 “Ou toca ou não toca” Clarice Lispector


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Lucidez Perigosa


* "Castle in the Pyrenees"- Rene Magritte
 
Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já  me aconteceu antes.
Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade  -
essa clareza de realidade
é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.


                       Clarice Lispector



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

http://img2.visualizeus.com/

O NASCIMENTO DO PRAZER 
O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.
Clarice Lispector


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"O conceito é irrepresentável, mas a imagem é inexplicável. Entre eles há portanto uma distância irreparável. E por isso a imagem vive da nostalgia do texto; e o texto, da nostalgia da imagem."           (BAUDRILLARD, 2002)

Registros imagéticos de outros carnavais

Há exatamente um ano, 14/02/2010:

Em alguns recantos de Araguari-MG


Paz mineira


o papagaio e o tempo


vida


morte


leito


sutil


tocaia


Orgânica










domingo, 13 de fevereiro de 2011

Formigas cortadeiras e eu


Buscando explicações capazes de renovar perspectivas e extrapolar a primeira impressão acerca da realidade dos fatos desenrolados na vida objetiva, travada cotidianamente ou em sobrevida:

 As pessoas defrontam-se com uma qualificação-instauração  da realidade de forma hipócrita? Suas visões são limitadas? A visão dos inadequados é que é atormentada? As pessoas carregam um fardo compatível ao tamanho de sua mediocridade?

Cada um com seu fardo de realidade! Cada um com a quantidade de chibatadas que seu lombo agüenta no decorrer dessa existência. É inútil querer entendimentos que não se compartilham. A visão é proporcionalmente relativa à vontade de vida sensível e sua bagagem de carga racional. Indivíduos e suas visões de mundo equivocadas, limitadas, razas, falta-lhes coragem? Falta-lhes comprometimento?
Tudo é uma grande banalização. Dia após dia em frente a televisão.
 Por detrás dessa névoa percepção, persiste uma incompreensão solitária e de difícil descrição.

Move-se sorrateiramente um espectro de novidade, o futuro se apresenta como el diablo, fantasmagórico e inevitável. São conseqüências das transmutações em atualidades não-sensíveis e quase insignificantes no ato de transmutar em algo realmente novo e infalível. Precisamos de cada sopro de novidade, para firmarmos nossa condição humana na espontaneidade. O fato de querer o lúdico e a percepção organicamente construída nos domínios da natureza, expõe uma espécie de selvageria necessária, urdida na resposta dos passos no mato, passadas rítmicas e conectivas- circulação de energia vibracional.
Me apresente uma verdade que desconheço, algo que transforme e extasie nossos destinos/sentidos. Correntezas transversas em fluxos nostálgicos de odoiá, de sereias encantadas e cantantes. Qualquer solavanco involuntário, um maremoto que seja, uma tsunami que chegue a Uberlândia, trazendo explicações inexistentes, porque o óbvio salta aos olhos inadaptados daqueles que vêem o que não querem, ou que querem e não conseguem resolver nada, ou adiantaria? Este mundo é feito de gurus e alegorias, pretensão ou iluminamento?
Nodosas raízes devem ser realmente arrancadas? Mutilação ritualística- Com uma peixeira passional? Freak-shoow no jornal nacional. Abafa o caso! Porque a vida é vantagem para quem quer se afundar em águas rasas, porém silenciosas. Aquelas do politicamente correto e acima de qualquer suspeita. Repressão- mal resolução! São no fundo uns dissimulados repreendidos, tenho muita pena dessa vida limitada. Pura escolha!
Vida-vendaval-voltas do mundo.

Eu procuro, me suspender mesmo sem ar,
mergulho na temperatura dos rios, e neste estado tudo é pertencimento, as folhas caindo, o sol rachado faíscas de maravilhamento e cegueira, completo vislumbre no natural, alienação possível escapada no nada, na imaginação e sobressalto do abismo.
Movimentos necessários e pulsantes de vida e estômago. Girando
Fome e argúcia de entendimento. Eu em mim, eu para os outros, eu e eu, o mundo e eu, os sortilégios, os elementares, as formas abstratas - eu e a abstração em significância, em trajetória errância, no dorso de um ser mitológico oriundo das profundezas abissais de um oceano movimento difuso das marés. Adelante!
Insolúvel solução, para tudo há uma razão, sofrimento é crescimento, já diria um pensamento espalhado a 4 ventos.
Por tudo que passamos a de buscar-se entendimento, quais foram os motivos, as conexões, os infortúnios fortuitos e indiscretos. Incertezas e sutilezas - suor da seiva do mundo! Úmido fundo de imaginações que se sobrepõe à realidade, como uma outra dimensão, corredor de portinholas, àquela dos poetas que se comunicam por línguas incertas e inesquecíveis.

Fico na inércia para alguns assuntos de prática de vida corrompida. Corrompendo, sociedade capitalista. Corromper-me até quando? Continuar me enquadrando? Vivendo no caos urbano?
razão, pensamento, iniciativa, emoção, firmamento, intuição, labor, loucura- chega-se lá!
...
(Individuo)
até onde não se percebe as intenções ocultas e dissimuladas do ser humano, desgosto quando expectativa, interesse, meu  tormento, vida, existência, histórias, pulsações, inclinações e relevâncias para além da composição da máscara despudorada, da fantasia montada.
Não é fácil despir-se.
De fantasias já temos a rua e a noite.
O domínio do íntimo é o das feras selvagens- animais acostumados em correr soltos na noite dos caminhos, matas, veredas e chapadões, a acolher-se nas grutas enfumaçadas nas noites de verão chuvoso, e a dormir no relento sob a luz da lua na seca estação de outono no cerrado. Calor dos trópicos.

E eu quero a nudez do mundo, a cumplicidade de almas e olhares ainda inexistentes, esquivos e chorosos.
Gosto de olhos emocionados de  bem querer, de quem sente o mundo, tocar nos cílios molhados, vibrar o som no espaço e no ritmo. Mas o silêncio é o melhor livramento!
 Confesso, entrei como em outra áurea azul, uma dimensão distante, não vi exatamente ninguém, estava pisando em águas primitivas, todo aquele revolto processo de descobrimento do incerto, do trivial, daquilo que está aqui dentro. Permaneci por longos instantes com as vistas cerradas para a exterioridade, prestava atenção no imerso profundo, estava lá afinal para isso. Abri os olhos e senti toda a pulsação necessária para identificar um dia e um acontecimento vago- incerto, e inclusive toda uma simbologia de impedimento.
Fico tranqüila, palavras e pensamentos- nesse momento navego absorta em águas turvas, desconhecidas e inseguras, nessa pequena jangada só cabe o peso da minha existência rompida e da minha busca, a névoa estratosfera das minhas perguntas, acompanhantes a ermo, as longas jornadas para dentro de mim e do mundo.
Vejo a projeção de uma ilha e eu quase lá com minha jangadinha amarrada nas costas, tenho os braços e as pernas sãs, que se por ventura não forem lambiscadas de uma só vez por tubarões famigerados, chegarão em perfeito tensionamento-  torque impulsivo para frente e adiante. Me sinto, banhada por águas gélidas e imprevistas, nua ilha deserta de interior matagal, complexo processo de arriscar e adentrar.
Busco nas letras exorcizar um pouco de quase nada que possa ser dividido, tudo fica á beira do segundo e me serve apenas como um roteiro indicativo de pensamentos, que são registrados à mercê de seu enredamento e intensidade.
Vivo a buscar o sensível orgânico que me alimenta holisticamente de preenchimento dos poros que se envolvem simultaneamente/ completamente nas tormentas de minha identidade (renovando-se em morte e vida/ caos e/ou silêncio- tudo suspenso)- algo se transformou em todo o enquadramento geral que não será por aqui mencionado, pelo menos não tão displicentemente assim... mas que foi capaz de bruscas rupturas desoladoras e fortalecedoras.

Só o tempo será capaz de dizer se a inércia é temporária, ou se novos horizontes atrelam marés estrelares- incontidas de deslocamentos..esse mundo é tão grande, existem tantas possibilidades. Será que vale a pena levar apenas aquela que convém? Admiro os entusiastas aventureiros, queria morar em novas condições, ter outro cotidiano de me aventurar nas matas, mas nem sempre faço como a gosto, queria mesmo era dormir ao  orvalho na relva e sonhar com formigas cortadeiras que me carregassem, recortassem toda a pele do corpo e me despissem dessa carapaça adiposa, às vezes sou tão ribeira, que não me reconheço numa ocidental semi sedentária, nossas bolhas de aço. Essas formigas fariam um mosaico construto geométrico com unhas e cabelos e como uma lenda indígena me transformaria em árvore milenar. Estática e irredutível, meditando pelas gerações. Aguentando a dureza do mundo.








segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Águas mineiras

Na destreza mateira 
ladeira acima e ribanceira abaixo 
no remanso- correnteza das águas mineiras
...


me sinto conectada
quando,
fragmento do nada
poeira cósmica/ gota d`água
imensidão sem fim 
me sinto em mim

ancestral
pertencente


nestas matas, nestas nascentes

cascalho rolando e as pedras do caminho
controverso cerrado
rústica flor nativa

água doce precipício















Em reverência a Mamãe Oxum


(...) "a vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si." 
Clarice Lispector- Amor






quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ilha de mim


Aversão a origem e ao meio
as verticalidades engessadas
cruzadas por asfalto-fluxo

tencionados processos cotidianos
      (tempestade de chumbo)


construto ruído 
ruiu..........
ruínas de ego

-do outro lado do mundo:

 imersão passiva em morosidades.

-do outro lado do mar:

diverso imprevisível!


No oceano demasiado profundo devo

emergir ou submergir?!

Não, São Paulo não me cativou nesse ano. Para mim, privilégio não é estar onde “todo mundo está”, mas estar em um lugar onde se pode, num ...